Faltavam algumas horas no Recife antes do vôo e resolvi me esconder do sol no quarto que chamo de meu quando estou na casa de meus pais. De início, fiquei na rede lendo os outros contos vencedores do Prêmio Maximiano Campos até, de frente para a estante, me dar conta de alguns livros empilhados. Resolvi verificar o que tinha, acabei trazendo algumas relíquias saborosas como O Quinze; Morte e Vida Severina (uma edição de 1989 que usei muito durante a faculdade) e, vejam só, um livro de Maximiano Campos, chamado O Major Façanha.
Encontrar esse exemplar ali perdido foi mais que uma coincidência - minha mãe me contou que meu pai ganhou esse e outros livros de um velho do bairro, que resolveu presentear alguns amigos com exemplares de sua biblioteca, antes de morrer.Pena que o nome assinado na contracapa, não posso entender. E eu jamais tinha lido uma frase desse escritor pernambucano.
Foram três horas de vôo direto, um luxo que se deve aproveitar bem. Meu tempo usei lendo O Major Façanha (Recife: Bagaço, 1994, 126 pag.). O livro narra a história de um senhor de engenho falido, que troca a propriedade rural por algumas casas cujo aluguel lhe garantem o sustento e um lugar para morar na frente da praia, em Candeias. Ali, o velho de postura soberba entra em conflito com um grupo de jovens endinheirados e seus pais - novos ricos que ocupam o lugar, nessa nova sociedade, que um dia já foi dos senhores de engenho da zona da mata pernambucana.
É do choque social (e aqui não estamos falando de pobres versus ricos, mas de velha burguesia e nova burguesia) que se alimenta a narrativa de Maximiano. Sua escrita não chega a trazer inovações técnicas e, em alguns momentos, peca pela repetição de palavras. A riqueza da narrativa está no registro social de uma época, na perspicácia de Maximiano em fazer o leitor se sentir um ouvinte, e na aparente inocência do narrador – um velho contador de história. O final do livro é belíssimo – e tem cheiro de mar.
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
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