Acabo de voltar de férias. Foram 15 dias entre três das cidades mais encantadoras da Europa: Paris, Amsterdam e Berlin. A única que não conhecia até então era Berlin. Era, portanto, a que me enchia mais de curiosidade.
Uma das coisas que mais me encantam quando estou viajando fora do país é relacionar os lugares que passo com os artistas que ali nasceram ou produziram. É uma mania muito particular minha, que divido com o Marquinhos quase sempre, de procurar saber que artistas de verdade resumem com suas obras ao menos um dos lados da cidade. Depois, tento passar nos lugares que eles passaram, repetir caminhos que lhe eram rotineiros - acho que assim consigo captar um pouco de suas áureas!
Nem sempre são escritores, embora em sua maioria sim. Nem sempre são os óbvios, nem sempre estão citados nos guias de viagem. Enfim, eis o resumo de minhas férias, por esse ponto de vista:
Paris - Essa foi a segunda vez que fui à cidade que considero a mais charmosa do mundo. Na primeira, era muito claro: Cortázar representava a minha Paris. Mais precisamente, Cortázar de Amarelinha. Nunca mais na vida olhei para um clochard como antes depois desse livro. As Magas passavam diante de mim sem cessar na primeira vez. Mas Paris é enorme, são muitas e basta mudar o endereço do hotel para tudo parecer diferente. Tudo indica, dessa vez conheci a Paris de Hemingway. Fiz questão de ir até a Shakespeare & Co. (que será assunto de outro post) e me senti um pouco testemunha daquela festa. E também me senti na Paris de Proust, enquanto lia o No Caminho de Swann em algum café do bl. Hausmann. Foi incrível.
Amsterdam - Resolvemos repetir o roteiro que fizemos há cinco anos e incluimos Amsterdam, de última hora, na viagem. Fizemos o mesmo trajeto, pela mesma estrada, entre Paris e Amsterdam, dessa vez de dia, o que me fez perceber melhor as transformações que separam essas duas cidades. Parece que o quadro de Van Gogh vai sendo construído - até a luz muda. Van Gogh é, sem dúvida, uma incrível representação de Amsterdam, mas como ele próprio, eu também me rendi (mais uma vez) a Rembrandt. Eu me senti o próprio Rembrandt um sem número de vezes paralisada diante da vida alheia dessa nova burquesia holandesa, que assim como seus antepassados, gosta de não ter nada a esconder. Show para os olhos. Quadros vivos. Mas não posso esquecer, a viagem não seria tão encantadora sem a melhor descoberta das férias: um maravilhoso pequeno hotel, perto da casa da Anne Frank, numa rua residencial cortada por um majestoso canalzinho. Nosso quarto tinha vista para o canal, podíamos ouvir os patos nadando e os sinos de uma igreja ali de perto. Encantador. Quis morar naquele quarto.
Berlin - De início, achei a cidade feia. Depois, fui entendendo suas sutilezas e, um dia antes de minha partida, chamava-a de linda! - o que me deixa ainda mais segura para enxergá-la em Günter Grass, prêmio Nobel de Literatura em 1999. Berlin é contraditória como o autor, ainda marcado em minha memória por recentemente ter assumido seu passado nazista (disse, ele próprio, ter integrado a Waffen-SS, tropa de elite nazista atuante no Holocausto). Rara e apaixonante. Nunca um amor à primeira vista, sem obviedades. Os alemães se esforçam mesmo para serem gentis, e chegam a ser muitíssimas vezes. Quero voltar lá, de preferência no verão. De certa forma, a melancolia do outono em Berlin me contaminou. Mais tarde escreverei mais sobre o que pude enxergar nos olhares de Berlin.
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