terça-feira, 26 de maio de 2009

A um ausente

(Carlos Drummond de Andrade)

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompestee
sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

p.s.: hoje o Marquinhos faria 36 anos.
E a Julia faz nove meses!
E quem me mandou esse texto hoje foi Edward, que faz parte da nossa família mineira.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Domingo com Julia

Com vocês, Julia - em fotos fresquinhas, tiradas ontem, lá em casa:

(Com a avó Sílvia)
(Com Vico, o gatinho!)
(Com Serginho)

(O biquinho!)
(Ela já fica em pé!)




terça-feira, 12 de maio de 2009

Livros que inspiram e Requena

Parece verso de Martinho da Vila, mas já li livros de todos os tipos, acho. Os que os mais gosto, sem dúvida, são os que me instigam. Tem aqueles que te paralisam, e são bons, claro. Mas nada como ler uma coisa que me inspira a fazer outras coisas. Talvez seja cedo para dizer (estou apenas na página 21), mas “O Edifício Yacubian”, de Alaa Al Aswany (Companhia das Letras) tem me feito isso. Interrompi a leitura para escrever (aqui, inclusive), porque precisava. Bom, ne?

O livro que li na semana passada também é assim. “Requena”, de Alejandro Garcia Schnetzer (por enquanto, apenas disponível em edição argentina da editora Entropía). Terminei de ler tarde da noite e não pude esperar até amanhã para escrever minhas impressões, tamanho entusiasmo. E isso por dois motivos: Alejandro é meu amigo e o livro é realmente muito bom.

Alejandro, conheci na Espanha. Fizemos parte da mesma turma de pósgraduação na Universidad de Barcelona. Aliás, uma turma que reuniu gente talentosíssima, e incrivelmente casamenteira, da qual me orgulho ter feito parte. Minha pequena gangue na época (eu e Marquinhos, Miguelito e Txell, Corina, e Marta – hoje casada com Alejandro) o apelidou de “El argentino”. Além da razão óbvia da nacionalidade de Alejandro, havia a atmosfera quase dramática que ele sempre criou ao seu redor, com sua inseparável “pipa” e seus trajes negros. Muy argentino.

O livro foi lançado ano passado, mas só tive conhecimento há coisa de 20 dias quando um exemplar chegou pelos correios. Enxuto, com uma narrativa deveras econômica, é a transcrição de anedotas, pequenos causos e frases marcantes de um certo Requena a um grupo de estudantes interessados em literatura. Requena é um erudito, conhecedor das coisas da vida e da literatura, muito generoso na partilha do seu pensamento – lembra alguém?

Requena se torna o motivador e a referência das especulações filosóficas do grupo. Alejandro aplica uma instigante construção narrativa, com tiradas marcadas de sarcasmo, ironia e originalidade. De Requena saem pérolas como:

“(...) Usted, Lanuza, deje de querer ser otro. Encuéntrese. Escritor que no se encuentra a si mismo mejor que se dedique a otra cosa. A viajar por ejemplo...”

“De un diálogo que había escrito:
Adán: Eva, esta felicidad no puede durar mucho. Tarde o temprano Fortuna hará girar su rueda y Tristeza vendrá.
Eva: ¡Pero viví el presente, hacé el favor! Y vos, retorcida, decí qué tenés de postre!”


Qualquer semelhança com Borges não é mera coincidência. É em Borges que Alejandro nos faz pensar, recriando sua imagem sem ao menos citá-lo. Adorei.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sobre ser mãe/pai

Desde que me tornei uma mãe/pai, tenho notado que ser mãe ou ser pai é um estado de espírito, e não depende de gênero. Eu consigo perceber muito bem quando sou um ou outro – e quando sou os dois. Se não, vejamos:

- Quando tento ninar minha bebê enquanto torço pelo Sport (pelo leão tudo!) diante da TV, sou pai.
- Mas quando ensaio passinhos de balé na frente dela, num esforço incrível para relembrar o passado, sou mãe!
- Quando, de saída para o trabalho, beijo minha filha e digo; “vou ali ganhar dinheiro pra gente”, sou pai.
- Mas quando arrumo a mala da Jujuba para sua primeira viagem ao Rio e separo os montinhos entre “se fizer calor” e “se fizer frio”, sou muito mãe.