terça-feira, 7 de abril de 2009

Eu e as cidades

(Arredores do Hyde Park, semana passada)

Não sei se é pelo regresso de minha primeira viagem internacional depois que virei mãe (a trabalho, é verdade, mas ainda assim uma viagem!) ou se pela leitura de dois livros seguidos com o tema emaranhado, talvez por causa de ambos, o fato é que tive vontade de escrever sobre cidades.

Voltei de Londres; acabo de resenhar para UOL (link abaixo) o novo livro de contos do Hatoum que tem Manaus como epicentro; e agora estou lendo “O Filho da Mãe”, de Bernardo Carvalho, cujo centro de tudo é São Petersburgo. Três cidades, três moldes.

De tanto ler e pensar, cheguei a minha própria história – nos últimos 12 anos, cinco cidades: Recife (onde tudo começou), Olinda, Belo Horizonte, São Paulo, Barcelona, e mais uma vez São Paulo. E planos de outras, muitas outras.

Fui uma em cada cidade? Não. Mas sim que cada cidade me alterou de uma forma. Apagou pedaços, desenhou outros. Claro, desse jeito a vida é saudável. De minha parte, desconheço prazer melhor que o “sentir-se estrangeira”. E talvez por isso goste tanto de São Paulo.

Um brinde ao desconhecido – quem gosta de desvendar mapas vai entender do que estou falando. É gostar do gosto de abrir o guia de ruas ou tentar entender onde começa West End e onde termina Westminster.

Em muitos dos contos do Hatoum, há um olhar estrangeiro. Seja do gringo que está certo de ter chegado ao fim do mundo, seja do brasileiro residente nos Estados Unidos e ainda assim perseguido pelas lembranças de Manaus. Dá quase para sentir o cheiro de cachaça, do sol da tarde e da floresta da cidade pensada por Hatoum.
A São Petersburgo de Bernardo Carvalho está em obras. Os personagens estão sufocados de poeira, andaimes e telas protetoras de prédios em reforma. E mesmo tendo como imagem paralela a guerra da Tchetchênia, é a cidade em mutação que dá o ritmo à trama. Enfim, desse livro não posso falar muito porque ainda não terminei de ler.

O resumo é que eu gosto de estar onde estou porque nunca deixei de ser um pouco estrangeira em São Paulo. E nem quero deixar de ser. Só assim dá para sentir-se em casa em território distante, mesmo sem saber muito bem distante de quê.
Resenha de “A Cidade Ilhada”, de Milton Hatoum em

4 comentários:

Unknown disse...

Ser cidadã do mundo é o luxo dos luxos, e morar em São Paulo já é um bom começo. Deve ser por isso que também amo essa cidade.

Laura disse...

Londres já sente a sua falta! Muitos beijos

Micheliny Verunschk disse...

Ano passado eu me senti mais que estrangeira, alguém sem lugar, dividida entre o sentimento de uma cidade natal com a qual não me identificava e uma cidade adotada, difícil com seu colo de arame (como bem definiu uma amiga). Nesse jogo, ganhou a cidade adotada, São Paulo, a qual digo sem remorsos: amo como quem ama o menino mais esquisito do colégio. E ponto final.

Marta disse...

Adorei as declarações de amor de uma pernambucana e uma capixaba - bem são paulo!