quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Esforço de animal libertado

De Clarice Lispector e Woody Allen, eu preciso ao menos uma dose por ano. Chegou meu momento anual de Clarice, a todo-poderosa, deus, minha inspiração eterna e a quem rendo pela graça alcançada.

Releio “Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres” (edição da Rocco de 1998, a primeira edição é de 1969).

A primeira vez que li esse livro foi na adolescência, por indicação de uma professora chatíssima que achava que eu era inteligente. O que lhe dava permissão de me “sugerir” leituras, e depois fazer uma “chamada oral informal”, sabe, para testar se eu li mesmo. Isso me irritava tanto que tudo que vinha dela eu lia com má vontade. Nem preciso dizer o resto. Foi uma leitura burocrática cujo ponto que mais me chamou atenção foi o começo – o livro inicia com uma vírgula.

A segunda leitura já foi bem diferente. Tinha acabado de chegar de BCN e recebo um e-mail da Marta, meu alter ego catalão, aterrada: perguntava se era mesmo o que seus olhos enxergavam ou havia algum erro na edição espanhola desse livro. Estava intrigada com a tal vírgula abrindo o livro. Assim ela me fez lembrar dele. No mesmo dia, comprei essa edição que tenho até hoje. Está cheia de marcações em caneta amarela. Agora, cinco anos depois, faço outras em caneta prata. E assim o livro entra na minha história.

Acabo de recomeçar a leitura, não tenho conclusões, mas uma passagem já me pegou: quando ela fala dos movimentos histéricos de um animal preso. A histeria é a forma que o bicho encontra para libertar, “por meio de movimentos, a coisa ignorada que o estava prendendo – a ignorância do movimento único, exato e libertador era o que tornava um animal histérico”. O descontrole é, assim, o caminho da libertação. Lindo! E depois que passa o esforço, vem o cansaço do “animal libertado”.

Fim de semana passado, me senti assim: cansada do descontrole da alma. Dormi umas 15 horas entre sexta e sábado e outras 15 entre sábado e domingo. Exausta. E livre.

No mais, o de sempre: mais Clarice em nossas vidas, por favor!

9 comentários:

Van. disse...

Perfeito.
Também tomo doses de Lispector.

Marta disse...

Gente, recebi esse e-mail e quis compartilhar com vocês. É da carol, que eu conheci faz pouco tempo, mas que já bateu sintonia, sabe como?

O e-mail:

Esse ano voltei a ler Clarice e por coincidência experimentei ao mesmo tempo o talento do Woody Allen como escritor. Tem algum outro escritor verborrágico que te faça rir ao invés de entediar? Se tiver, por favor, indique pra eu ler também! E Clarice é tão bom que quase me faz rasurar o livro todo. Essa parte de A paixão sobre G.H. eu entendi da mesma forma como você entendeu aquele outro trecho:
"Vou te dizer: é que eu estava com medo de uma certa alegria cega e já feroz que começava a me tomar. E a me perder.
A alegria de perder-se é uma alegria de sabath. Perder-se é achar-se perigoso. Eu estava experimentando naquele deserto o fogo das coisas: e era um fogo neutro. Eu estava vivendo da tessitura de que as coisas são feitas."

Eu entendo isso como aquela pira da psicologia de sair do ego e encontrar o self... "e agora eu sei que sentir o gosto desse quase nada é a alegria secreta dos deuses". Mas pra mim a parte mais bacana é quando ela diz sobre o fim da vida, sobre fazer aquele balanço, olhar e pensar "é só isso?", "Não é só isso. É exatamente isso". Foooda! Me empolguei, pronto, parei haha.

Ah, tua filha é mto fofa, dá vontade de morder.
Bjos,

Carol

Anônimo disse...

Marta, vem aí, até o final do ano, uma biografia da Clarice, um catatau de 600 páginas escrito pelo americano Benjamin Moser. Já saiu nos EUA e na Inglaterra, e foi recebido com resenhas muito positivas. Aqui, vai sair pela Cosac. Ainda não li o livro, mas acompanhei a feitura dele. Benjamin, amigo meu, é um estupendo pesquisador.
Beijo
Humberto

DOIDINHA DA SILVA disse...

Preciso ler um pouco mais de Clarice....E vir mais vezes a este Blog....

alter ego catalão disse...

¡Lembro bem a historia da virgula misteriosa! ¿Voçe sabe que eu encontré Clarice num momento da grandisima saudade de voçes, após a partida de BCN? Imaginava que ler uma escritora brasilera seria bom pra mi naquele momento e compré sem conhecer demasiado. Foi um encontro muito afortunado. ¡Beijos!
Martita

Caroline Castro disse...

Haha vi só agora seu comentário. Achei que vc ia postar só o trecho do livro. Devo abrir meu blog ainda essa semana. Deixo o link pra você depois!
Bjo

Dani Diniz disse...

Martinha, sinto a mesma necessidade de Clarice todo ano. Preciso revirar o que já li e encontrar mais no mesmo. E sempre encontro. Ao ler seu post, deu vontade, agora, de pegar mais um livro dela e ler mais um pouco. Nunca é suficiente. Bj. Dani Diniz

@Vanessinhabcc disse...

Prima, parabéns prá vc, por essa linda princesa que completou 1 aninho de amor e felicidade na sua vida. Amo vcs, mesmo de longe.
Ju está muito linda!!!

Saudade imensa!

Vanessa Coêlho.

Anônimo disse...

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