quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sobre estar só



Era um dia qualquer, mas agora eu podia escolher o caminho, conversar ou não, ler ou não, chorar ou não, sorrir talvez. E também podia tomar vinho no gargalo, andar descalça na lama, observar longamente as pessoas da mesa de um café depravado. Entrar no cinema e sair antes do filme acabar. Entrar no cinema e só sair quando passassem todos os créditos, só para ver quem canta aquela música. Podia dormir ao meio-dia, acordar às três da manhã. Virar amiga do desconhecido sentado ao meu lado no avião. Entrar e sair de uma festa sem conhecer ninguém. Caminhar por horas, e em círculos, só para exercitar as pernas. Ou pegar um táxi para atravessar um quarteirão. Podia me vestir para uma festa e ir só até a padaria. Podia deixar o telefone tocar e depois dizer que não ouvi. Escrever uma carta chorando e não enviá-la nunca. Pedir uma pizza gigante e comer só as azeitonas. Tomar coca-cola no café da manhã, antes de escovar os dentes. Podia dizer que meu nome é Maria. Podia inventar uma Maria para ser eu. E matá-la quando bem entendesse. Coisas bestas assim, como se sentir livre sem ser.

Textinho inspirado neste vídeo lindo que me foi apresentado via Facebook da Renata Simões.


http://www.youtube.com/watch?v=k7X7sZzSXYs

4 comentários:

daniela picoral disse...

Esse seu texto é maravilhosamente lindo.

Marta disse...

<3 amo-te-dani.

Ingracia Carmona disse...

Só li hoje, adorei!

panela disse...

Textinho, nada, Marta. Textaço. Muito bom. bjs.