Duas leituras recentes que eu gostei e recomendo: “Paisagem com Dromedário”, de Carola Saavedra (Companhia das Letras) e “O Caso Morel”, de Rubem Fonseca (reedição da Agir). Os dois estão nas estantes de lançamentos das melhores livrarias e valem levar para casa. Sobre as qualidades narrativas de cada um, vocês podem ler nas resenhas do UOL. Chamo atenção aqui para um ponto comum entre os textos: o medo da palavra permeando a narração.
“O Caso Morel” foi o primeiro romance de Rubem Fonseca, lançado em 1973. Talvez eu tenha lido quando me preparava para o vestibular, lá atrás, mas não lembrava nada do enredo e reli como novidade. Paul Morel, personagem principal do livro, pensa que pode usar as palavras para exorcizar seus demônios – que não são poucos. Da cela onde está preso pelo suposto assassinato de uma socialite carioca, o artista plástico intransigente e dado à promiscuidade tenta escrever sua biografia. Entre lembranças e invenções, Morel repete como mantra seu medo da palavra.
Em “Paisagem com Dromedário”, a personagem Érika se atormenta com compromisso de ser pela primeira vez na vida absolutamente verdadeira. Escolhe, ao invés da palavra escrita, a palavra falada para seu testamento sentimental. Usa um gravador para mostrar-se ao ex-namorado, enquanto vive um período de isolamento social numa ilha sem nome depois que uma tragédia muda para sempre sua vida afetiva. Não só sua voz, mas todos os sons ao seu redor contam sua história. A linguagem oral se torna, pelas mãos da autora, uma ferramenta de oposição à palavra escrita. O medo da palavra verbalizada é um assunto recorrente no livro, até que a personagem parece conseguir domá-la – numa relação muito clara com o processo narrativo.
Também tenho medo da palavra. Sinto um misto de respeito e devoção porque conheço seu descontrole. E o que é escrever se não a tentativa sem fim de controlar a palavra?
As resenhas de “O Caso Morel” e “Paisagem com Dromedário” estão no UOL.
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/
“O Caso Morel” foi o primeiro romance de Rubem Fonseca, lançado em 1973. Talvez eu tenha lido quando me preparava para o vestibular, lá atrás, mas não lembrava nada do enredo e reli como novidade. Paul Morel, personagem principal do livro, pensa que pode usar as palavras para exorcizar seus demônios – que não são poucos. Da cela onde está preso pelo suposto assassinato de uma socialite carioca, o artista plástico intransigente e dado à promiscuidade tenta escrever sua biografia. Entre lembranças e invenções, Morel repete como mantra seu medo da palavra.
Em “Paisagem com Dromedário”, a personagem Érika se atormenta com compromisso de ser pela primeira vez na vida absolutamente verdadeira. Escolhe, ao invés da palavra escrita, a palavra falada para seu testamento sentimental. Usa um gravador para mostrar-se ao ex-namorado, enquanto vive um período de isolamento social numa ilha sem nome depois que uma tragédia muda para sempre sua vida afetiva. Não só sua voz, mas todos os sons ao seu redor contam sua história. A linguagem oral se torna, pelas mãos da autora, uma ferramenta de oposição à palavra escrita. O medo da palavra verbalizada é um assunto recorrente no livro, até que a personagem parece conseguir domá-la – numa relação muito clara com o processo narrativo.
Também tenho medo da palavra. Sinto um misto de respeito e devoção porque conheço seu descontrole. E o que é escrever se não a tentativa sem fim de controlar a palavra?
As resenhas de “O Caso Morel” e “Paisagem com Dromedário” estão no UOL.
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/
Nenhum comentário:
Postar um comentário