terça-feira, 6 de abril de 2010

Notas sobre Nietzsche X Heidegger

(Imagem do blog cabecasafora.blogspot.com)

Mês passado fiz um curso cabeçudo na Livraria da Vila: Nietzsche versus Heidegger, com a professora Regina Schöpke. Eram três aulas. Um respiro legal na vida corrida que teria sido perfeito se eu não tivesse esquecido de ir na última aula, só lembrando meia hora depois que ela já tinha terminado. Ridículo. Sei.

Enfim, de lá queria dividir uma conversa muito legal que tivemos (eu calada, claro) sobre dois modelos de organização do mundo muito diferentes, que até podem se cruzar, mas jamais se unem: o nômade e o sedentário.

No primeiro, o homem se constitui para ser nômade. Migra em nome de melhores condições e é aterrorizado pelas forças da natureza. Prefere fugir a enfrentá-las. Já o homem sedentarizado prefere a proteção do Estado, mesmo que isso signifique (e significa) abrir mão da liberdade. O sagrado e a religião têm suas bases no mundo sedentário.

O mundo sedentário é o de contenção de fluxos. Nada de paixões. Nada de instintos. Por isso, o medo da diferença e a aceitação da vigilância (não é só proteção, a gente sabe) do Estado. Sócrates é o marco desse pensamento. “A própria filosofia surgiu como requinte do mundo sedentário, mas com bases e aspirações nômades”, explica Regina. “A filosofia é uma arma de guerra nômade.”

Nos dois mundos, o homem teme o acaso. A diferença é que o nômade o afirma, enquanto o sedentário o nega. O homem sedentário se ocupa em antecipar o presente, e sofre pelo porvir. O nômade não perde a noção do presente. “Viver intensamente é viver perigosamente”, escreveu Nietzsche, o mesmo que diz que “o homem é um animal que adoeceu”.

Tentar ser um sendo o outro é o começo do fim. E isso, ao menos para mim, explica muita coisa ai fora.

Um comentário:

Martita disse...

Una nota estupenda Martinha. ¡Esclarecedora!
Besos