terça-feira, 26 de maio de 2009

A um ausente

(Carlos Drummond de Andrade)

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompestee
sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

p.s.: hoje o Marquinhos faria 36 anos.
E a Julia faz nove meses!
E quem me mandou esse texto hoje foi Edward, que faz parte da nossa família mineira.

6 comentários:

Ju De Mari disse...

O texto é lindo. A saudade do Gusma é grande. E o amor que eu tenho pela Julia e por você só cresce. Um beijo, Ju

Laura disse...

Oi, Má, muita saudade de vocês, três, beijos Lau

Carla Florit disse...

Oiê!! Lindo, adorei. Força na peruca, querida. Bjs

Por: Fernando Tuzi disse...

Vou mandar pra uma amiga minha que foi abandonada. haha!

Tudo al dente disse...

Marta, olha esta.. é malancólica, mas me dá um certo aconchego qd a leio... Drumond escreveu para ana cirstina cesar... , bjs, querida..

Ausência

Por muito tempo achei que ausência é falta

E lastimava, ignorante, a falta..

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

Ausência é um estar em mim.

E sinto-a tão pegada, aconchegada nos meus braços

Que rio e danço e invento exclamações alegres.

Porque a ausência, esta ausência assimilada,

Ninguém a rouba mais de mim.

(Carlos Drummond de Andrade – Com o pensamento em Ana Cristina)

Anne Dias disse...

que lindo, Marta! Basta ler o poema para entender um pouco o que você passou. Gostei muito. bjs.