Parece verso de Martinho da Vila, mas já li livros de todos os tipos, acho. Os que os mais gosto, sem dúvida, são os que me instigam. Tem aqueles que te paralisam, e são bons, claro. Mas nada como ler uma coisa que me inspira a fazer outras coisas. Talvez seja cedo para dizer (estou apenas na página 21), mas “O Edifício Yacubian”, de Alaa Al Aswany (Companhia das Letras) tem me feito isso. Interrompi a leitura para escrever (aqui, inclusive), porque precisava. Bom, ne?
O livro que li na semana passada também é assim. “Requena”, de Alejandro Garcia Schnetzer (por enquanto, apenas disponível em edição argentina da editora Entropía). Terminei de ler tarde da noite e não pude esperar até amanhã para escrever minhas impressões, tamanho entusiasmo. E isso por dois motivos: Alejandro é meu amigo e o livro é realmente muito bom.
Alejandro, conheci na Espanha. Fizemos parte da mesma turma de pósgraduação na Universidad de Barcelona. Aliás, uma turma que reuniu gente talentosíssima, e incrivelmente casamenteira, da qual me orgulho ter feito parte. Minha pequena gangue na época (eu e Marquinhos, Miguelito e Txell, Corina, e Marta – hoje casada com Alejandro) o apelidou de “El argentino”. Além da razão óbvia da nacionalidade de Alejandro, havia a atmosfera quase dramática que ele sempre criou ao seu redor, com sua inseparável “pipa” e seus trajes negros. Muy argentino.
O livro foi lançado ano passado, mas só tive conhecimento há coisa de 20 dias quando um exemplar chegou pelos correios. Enxuto, com uma narrativa deveras econômica, é a transcrição de anedotas, pequenos causos e frases marcantes de um certo Requena a um grupo de estudantes interessados em literatura. Requena é um erudito, conhecedor das coisas da vida e da literatura, muito generoso na partilha do seu pensamento – lembra alguém?
Requena se torna o motivador e a referência das especulações filosóficas do grupo. Alejandro aplica uma instigante construção narrativa, com tiradas marcadas de sarcasmo, ironia e originalidade. De Requena saem pérolas como:
“(...) Usted, Lanuza, deje de querer ser otro. Encuéntrese. Escritor que no se encuentra a si mismo mejor que se dedique a otra cosa. A viajar por ejemplo...”
“De un diálogo que había escrito:
Adán: Eva, esta felicidad no puede durar mucho. Tarde o temprano Fortuna hará girar su rueda y Tristeza vendrá.
Eva: ¡Pero viví el presente, hacé el favor! Y vos, retorcida, decí qué tenés de postre!”
Qualquer semelhança com Borges não é mera coincidência. É em Borges que Alejandro nos faz pensar, recriando sua imagem sem ao menos citá-lo. Adorei.
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Um comentário:
eita, gostei.. vou virar cliente... bjs para vc :)
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