quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ruído clássico

A primeira reação ao me ver ante “O Resto é Ruído”, livro de Alex Ross lançado pela Companhia das Letras, foi de medo. Quase 700 páginas sobre música clássica? Será? Confesso, não faço parte do grupo de apaixonados por esse estilo musical (“arte dos mortos”, diriam), embora me sinta sensível suficiente para identificar a beleza de uma peça de Strauss. Mas explicar o século XX pela música clássica me pareceu, num primeiro momento, forçado demais. Não é.
Crítico da New Yorker, Alex Ross tem em seu favor um incrível talento para apuração. Ele foi fundo e soube organizar muito bem a defesa de sua tese: a de que, em que pese a diminuição progressiva de público de 1900 para cá, a música clássica nunca esteve apartada da sociedade. Ao contrário, em muitos momentos chegou a antever fatos políticos e culturais.
Instigante, não?
Então, para os que não se assustam com calhamaços, uma boa leitura:
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2009/04/26/ult5668u91.jhtm

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Seres vulneráveis

Sim, “O Filho da Mãe” (Companhia das Letras), de Bernardo Carvalho, terminará o ano entre os melhores lançamentos brasileiros, disso não tenho dúvida. O livro é muito bom e tenho isenção total para dizer isso: nem conheço o cara e nem acreditava muito nesse projeto “Amores Expressos”. Não engrosso o coro dos que acham absurdo financiamento público para a literatura (se financia tão pouco a literatura no nosso país...), mas duvidava que saíssem coisas realmente relevantes do projeto. Bom, não digo pelos outros 15, mas pelo menos uma boa história de amor saiu, e veio de São Petersburgo. Lá Bernardo passou um mês com a missão de parir um livro. Haja pressão!

A resenha você pode ler em
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2009/04/12/ult5668u89.jhtm


Eu só queria colocar aqui uma questão que me deixou, como diria minha vó, com uma pulga atrás da orelha.
”O Filho da Mãe” é, sobretudo, um livro sobre a vulnerabilidade, em especial a materna. As mães estão pelo avesso nessa trama complexa e cheia de tensão. São vulneráveis, como aliás somos todos nós.

Perceber-se vulnerável é assustador. Mais assustador que a vulnerabilidade em si é notar-se dentro dela. É a imagem de um homem (ou uma mulher) andando só numa rua escura – absolutamente sujeito ao desconhecido, que necessariamente não é ruim, mas até saber o que é, atemoriza.

No livro, Bernardo Carvalho vai e volta no tema. É vulnerável o casal de turistas perdidos a procura do hotel. É vulnerabilidade o que o ladrão procura nos olhos de suas prováveis vítimas. E da vulnerabilidade alheia que se alimenta o amor - e ai fiquei baratinada:

“Quando não há mais nada, há ainda o sexo e a guerra. O sexo e a guerra são o que todo homem tem em comum, rico ou pobre, educado ou não. O sexo e a guerra não se adquirem. A ideia de uma vulnerabilidade maior que a sua lhe desperta o amor.” (pag. 139)

A sujeição do outro preenche o amor (e, por consequência, o ódio).
Reticências.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Ela

Como diz o Nigro: Julia rocks!

terça-feira, 7 de abril de 2009

Eu e as cidades

(Arredores do Hyde Park, semana passada)

Não sei se é pelo regresso de minha primeira viagem internacional depois que virei mãe (a trabalho, é verdade, mas ainda assim uma viagem!) ou se pela leitura de dois livros seguidos com o tema emaranhado, talvez por causa de ambos, o fato é que tive vontade de escrever sobre cidades.

Voltei de Londres; acabo de resenhar para UOL (link abaixo) o novo livro de contos do Hatoum que tem Manaus como epicentro; e agora estou lendo “O Filho da Mãe”, de Bernardo Carvalho, cujo centro de tudo é São Petersburgo. Três cidades, três moldes.

De tanto ler e pensar, cheguei a minha própria história – nos últimos 12 anos, cinco cidades: Recife (onde tudo começou), Olinda, Belo Horizonte, São Paulo, Barcelona, e mais uma vez São Paulo. E planos de outras, muitas outras.

Fui uma em cada cidade? Não. Mas sim que cada cidade me alterou de uma forma. Apagou pedaços, desenhou outros. Claro, desse jeito a vida é saudável. De minha parte, desconheço prazer melhor que o “sentir-se estrangeira”. E talvez por isso goste tanto de São Paulo.

Um brinde ao desconhecido – quem gosta de desvendar mapas vai entender do que estou falando. É gostar do gosto de abrir o guia de ruas ou tentar entender onde começa West End e onde termina Westminster.

Em muitos dos contos do Hatoum, há um olhar estrangeiro. Seja do gringo que está certo de ter chegado ao fim do mundo, seja do brasileiro residente nos Estados Unidos e ainda assim perseguido pelas lembranças de Manaus. Dá quase para sentir o cheiro de cachaça, do sol da tarde e da floresta da cidade pensada por Hatoum.
A São Petersburgo de Bernardo Carvalho está em obras. Os personagens estão sufocados de poeira, andaimes e telas protetoras de prédios em reforma. E mesmo tendo como imagem paralela a guerra da Tchetchênia, é a cidade em mutação que dá o ritmo à trama. Enfim, desse livro não posso falar muito porque ainda não terminei de ler.

O resumo é que eu gosto de estar onde estou porque nunca deixei de ser um pouco estrangeira em São Paulo. E nem quero deixar de ser. Só assim dá para sentir-se em casa em território distante, mesmo sem saber muito bem distante de quê.
Resenha de “A Cidade Ilhada”, de Milton Hatoum em