quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Histórias de amor

(Serginho e Érika, que casaram dia 21 de agosto - Foto mais que incrível da mais que incrível Dani Picoral)

Estou tomada de amor. Como se não bastasse o aniversário da Julia (dois anos nesta quinta, dia 26), fim de semana passado fui num casamento. Amo casamentos. Até aqueles todo organizadinhos, que só falta ter hora marcada para o público chorar, até esses eu gosto, e me emociono e me sinto preenchida de energia boa depois. Infelizmente, meus amigos não são dados a casar. E os que casam, demoram a celebrar. Fim de semana passado, festejamos um recém-nascido de seis anos. Foi demais. E esse casamento me fez pensar em histórias de amor, e cheguei à listinha abaixo. Livros de amor que qualquer romântico deveria ler ao menos uma vez na vida.

“O Amante de Lady Chatterley”, D. H. Lawrence – Constance casa com um oficial inglês que volta da guerra inválido, numa cadeira de rodas. Ela aceita a castidade até conhecer Oliver, feio e rude, um homem forte como a natureza. Além de um livro de amor, é um livro deliciosamente erótico.

“Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres”, Clarice Lispector – Esse livro é a própria materialização do amor. Se algum escritor conseguiu em vida se aproximar de uma definição de amor, foi Clarice e foi com esse livro. Sem mais.

“Para Francisco”, Cris Guerra – Amor é muito pessoal, e esse livro fala diretamente comigo, embora suspeite que qualquer pessoa possa sentir o mesmo. O diário virtual de uma mãe tentando apresentar ao filho o pai morto antes do nascimento dele é amor puro e verdadeiro.

“Cartas a D.”, de André Gorz – Li esse livro num momento inapropriado, e por isso mesmo foi catarse pura. O autor revê 54 anos de relacionamento com a esposa Dorine Keir, vítima de um erro médico que lhe causou uma doença grave.

“Ninguém escreve ao coronel”, Gabriel García Márquez – O amor senil me emociona. Nesse livro, o coronel e sua esposa vivem a ansiedade da espera por uma correspondência que mudaria suas vidas. Esperam uma carta que anuncie uma recompensa do estado. Esperam pobres, passando fome. E ainda tem o galo de briga, a esperança viva entre eles. Que livro!

Avalovara, Osman Lins – Encontros, perdas, ganhos, ausências. Avalovara expressa na própria construção narrativa a confusão que é o amor. O instável que é amar. Um dos livros da minha vida.

Essa lista deve aumentar com o tempo porque minha memória tem delay.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Medo da palavra


Duas leituras recentes que eu gostei e recomendo: “Paisagem com Dromedário”, de Carola Saavedra (Companhia das Letras) e “O Caso Morel”, de Rubem Fonseca (reedição da Agir). Os dois estão nas estantes de lançamentos das melhores livrarias e valem levar para casa. Sobre as qualidades narrativas de cada um, vocês podem ler nas resenhas do UOL. Chamo atenção aqui para um ponto comum entre os textos: o medo da palavra permeando a narração.

“O Caso Morel” foi o primeiro romance de Rubem Fonseca, lançado em 1973. Talvez eu tenha lido quando me preparava para o vestibular, lá atrás, mas não lembrava nada do enredo e reli como novidade. Paul Morel, personagem principal do livro, pensa que pode usar as palavras para exorcizar seus demônios – que não são poucos. Da cela onde está preso pelo suposto assassinato de uma socialite carioca, o artista plástico intransigente e dado à promiscuidade tenta escrever sua biografia. Entre lembranças e invenções, Morel repete como mantra seu medo da palavra.

Em “Paisagem com Dromedário”, a personagem Érika se atormenta com compromisso de ser pela primeira vez na vida absolutamente verdadeira. Escolhe, ao invés da palavra escrita, a palavra falada para seu testamento sentimental. Usa um gravador para mostrar-se ao ex-namorado, enquanto vive um período de isolamento social numa ilha sem nome depois que uma tragédia muda para sempre sua vida afetiva. Não só sua voz, mas todos os sons ao seu redor contam sua história. A linguagem oral se torna, pelas mãos da autora, uma ferramenta de oposição à palavra escrita. O medo da palavra verbalizada é um assunto recorrente no livro, até que a personagem parece conseguir domá-la – numa relação muito clara com o processo narrativo.

Também tenho medo da palavra. Sinto um misto de respeito e devoção porque conheço seu descontrole. E o que é escrever se não a tentativa sem fim de controlar a palavra?

As resenhas de “O Caso Morel” e “Paisagem com Dromedário” estão no UOL.

http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sobre estar só



Era um dia qualquer, mas agora eu podia escolher o caminho, conversar ou não, ler ou não, chorar ou não, sorrir talvez. E também podia tomar vinho no gargalo, andar descalça na lama, observar longamente as pessoas da mesa de um café depravado. Entrar no cinema e sair antes do filme acabar. Entrar no cinema e só sair quando passassem todos os créditos, só para ver quem canta aquela música. Podia dormir ao meio-dia, acordar às três da manhã. Virar amiga do desconhecido sentado ao meu lado no avião. Entrar e sair de uma festa sem conhecer ninguém. Caminhar por horas, e em círculos, só para exercitar as pernas. Ou pegar um táxi para atravessar um quarteirão. Podia me vestir para uma festa e ir só até a padaria. Podia deixar o telefone tocar e depois dizer que não ouvi. Escrever uma carta chorando e não enviá-la nunca. Pedir uma pizza gigante e comer só as azeitonas. Tomar coca-cola no café da manhã, antes de escovar os dentes. Podia dizer que meu nome é Maria. Podia inventar uma Maria para ser eu. E matá-la quando bem entendesse. Coisas bestas assim, como se sentir livre sem ser.

Textinho inspirado neste vídeo lindo que me foi apresentado via Facebook da Renata Simões.


http://www.youtube.com/watch?v=k7X7sZzSXYs

terça-feira, 6 de julho de 2010

Uruguai de Benedetti


Queria que o Uruguai ganhasse por vários motivos: pela picanha uruguaia, pelo Lugano, pela força latina e, principalmente, por Mario Benedetti, poeta dos meus preferidos que morreu ano passado. Dele, um poema que eu nunca canso de ler:

SOY MI HUESPED

Soy mi huésped nocturno
en dosis mínimas
y uso la noche
para despojarme
de la modestia
y otras vanidades

aspiro a ser tratado
sin los prejuicios
de la bienvenida
y con las cortesías
del silencio

no colecciono padeceres
ni los sarcasmos
que hacen mella

soy tan solo
mi huésped
y traigo una paloma
que no es prenda de paz
sino paloma
como huésped
estrictamente mío

en la pizarra de la noche
trazo una línea
blanca

(De La Vida ese Parentesis)

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Jazz band do Alê


Quanto mais eu cresço, mais amigos lançam livros. O da vez é o Alê, Alexandre Staut, uma das compensações boas que a vida me trouxe após a tempestade. A gente podia ter se conhecido no JT, mas parece que meses separaram a minha saída da chegada dele no jornal. Nos conhecemos bem depois, na hora certa. Lindo, inteligente, generoso, romântico, exagerado e agora escritor. Acaba de lançar “Jazz Band na Sala da Gente” (Toada Edições).

Sobre o livro, vocês podem ler na resenha desta semana do UOL, cujo link vai a seguir. O que eu queria dar um salve aqui é a dedicação do Alê em fazer a coisa acontecer. Como conta na entrevista que se segue à resenha, ele mesmo bancou a edição do seu livro de estreia na ficção. Alê tentou algumas editoras, “sem apadrinhamentos”, mas na falta de uma resposta e com incentivo de figurões como Luiz Ruffato (que graças a N.S.Airfrance reapareceu na minha vida!), ele não desistiu e partiu para uma edição própria. Contou com o super talentoso Marcelo Katsuki (que faz parte do mesmo saco de batata de ouro do Alê!). Kats assina a capa do livro. O lançamento foi no Na Cozinha, restaurante de outro querido, o Carlinhos. E a distribuição, o próprio autor começou a fazer, livraria a livraria – imaginem!
Acho fantástico esse desejo em ser lido. Essa vontade corrida que não deixa esperar pelo tempo dos editores. Corajoso meu amigo. E, olha que boa notícia, não é que a resenha no UOL já deu resultado! Logo após a publicação, a Livraria Cultura procurou o Alê e fez uma compra. Disse que já tem gente procurando o livro.


sexta-feira, 18 de junho de 2010

Dia triste

Sem Saramago, fica faltando um pedaço.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Pós férias

(Londres, maio de 2010)
(Barcelona, maio de 2010)


Três semanas de férias, um Coetzee e um Paul Auster depois, eis que me vejo no conforto da minha varanda ensolarada em São Paulo me sentindo uma completa deslocada. Não é novo, não é a primeira vez, mas quase esqueci o quanto tudo ao redor não faz sentido. Nessas férias, passei uma semana em cada cidade apaixonante do mundo: Barcelona, Londres e São Paulo. A cabeça ferve. Faltou Recife (em julho!) para completar a volta.

Na primeira parte das férias, em Barcelona, li “Verão”, de J. M. Coetzee, que para ser sincera não é um grande livro. Engraçado escrever isso porque ao mesmo tempo é um grande livro, se comparado ao que se lança na mesma época. Tem um enredo incrível: é o rascunho da biografia póstuma do próprio autor. O material (entrevistas com pessoas próximas, apontamentos de Coetzee) é reunido por um biógrafo chamado Vincent. Genial.

Mas a verdade é que à medida que a leitura avança, vai ficando chato. E não é a narrativa que piora – nisso, Coetzee não erraria. É a insistência em destruir sua imagem, num exercício de anulação que talvez Freud explique. Faz lembrar certos tipos que aparecem na revista de celebridades pedindo que não lhe fotografem. Sei lá. Talvez soe forçado. De tanto o autor apresentar ao seu Coetzee como um fracassado completo, periga o leitor concordar.

Em Londres, não li uma linha de nada. Mas nos trajetos (e como é difícil se deslocar por aeroportos!) de ida e volta a Barça, comecei “Invisível”, de Paul Auster, que chegou chegando. Logo nas primeiras páginas, uma frase ficou gravada na minha cabeça repetida como mantra desde então: “Só porque uma coisa é improvável, não significa que não venha a acontecer”.

O livro segue sem muitas outras frases de efeito, mas com uma narrativa tão bem emaranhada como teia. Parece que em “Invisível”, Paul Auster chega à reta final de uma trajetória de exercícios narrativos. É a apresentação de múltiplas perspectivas sob o mesmo enredo no nível de perfeição. Muito legal. Esse vale comprar. Já o “Verão”, pega emprestado do amigo, compra não.

A última semana de férias foi em São Paulo – essa cidade que eu amo! -e sem leitura útil! Apenas abraçadinha a Jujuba, que é meu eixo.

Ambos os livros, resenhas no UOL:

http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/