sábado, 20 de fevereiro de 2010

Carnaval da Julia

(Ela adorou o bailinho, mas curtiu mais correr no campo de futebol)

(No primeiro bailinho, asas de borboleta)


(A primeira fantasia, de havaiana (feita pela vó Sílvia), no dia do caruru do Carlos Ribeiro na casa da Beta)

Foi uma folia danada em São Paulo. Parece que metade da cidade resolveu ficar por aqui - e justamente a metade mais legal! Teve bloco, festinhas ótimas, samba e Julia sendo batizada por momo. Cultura carnavalesca 100% lá em casa! Teve confete no chão da sala nos quatro dias. E o primeiro bailinho dela que será lembrado para sempre.








sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Que guay!

Uma historinha engraçada: quando morei na Espanha, entre 2001 e 2002, aprendi uma palavra que adorei. "Guay". Semprei usei no lugar "legal", "bacana" ou alguma coisa nessa linha. Guay para tudo: gente, sensações, lugares, coisas. Digamos que eu adotei essa palavra, assim como adotei "meu" do paulistano (amo!). Não sei bem onde e como aprendi. Com os amigos não foram, já que no ano passado descobri que ela soa meio estranha dita por mim. Quem disse isso foi minha alterego catalana Marta. Ela quis dizer que "guay" é uma palavra muito infantil, que só criança diz na Espanha e tal. Que pena. Mas nem por isso deixei de usá-la (eu gosto e pronto). Hoje recebi um link dela maravilhoso, com um texto sobre a etimologia do "guay". E ler me fez gostar mais ainda!

Para quem tiver curiosidade:
http://etimologias.dechile.net/?guay

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Com 1 ano e 5 meses a Julia é um ser...

... feliz! Dorme sorrindo, acorda sorrindo. Tem uma gargalhada deliciosa. E solta sem economia.
... que ama barulho. Não pode escutar uma música que sai a dançar, convidando todo mundo ao redor para entrar no passo. P.s.: está sendo educada segundo a lógica “música boa é música boa”. Escuta o que eu escuto. Abro exceções para alguma coisa do Palavra Cantada, Adriana Calcanhoto, velhas trilhas sonoras... Mas ninguém merece essas músicas infantis chatíssimas.
... que ama gente, em especial crianças. Se encanta com os meninos da idade do primo Caio e do superamigo Tato e se derrete pelos bebês, que chama de nenê.
... muito carinhoso. Parece uma gatinha se enroscando. Beija todo mundo, abraça apertado, gosta de fazer carinho no meu rosto e na minha barriga (!).
... muito inteligente. Já conhece as partes do corpo (tem adoração por barrigas, pede para ver a minha e a de quem estiver perto, o que rende alguns momentos de constrangimento, claro), reconhece alguns animais, entende tuuudo que a gente fala.
... que já ama o belo. Dia desses, dei duas sandálias pra mocinha e ela passou dias mostrando para todo mundo a beleza que tinha nos pés.
... bem à vontade com o mundo das letras. Já tem seus livros preferidos e passa muito tempo (no tempo dela isso seria 15 minutos) lendo no sofá, às vezes sozinha, às vezes dividindo as surpresas comigo. Ah, e também adora revistas – mas nessas ela faz, digamos, uma leitura criativa com interação radical.
... que cada dia parece mais comigo. :-)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Essa não é uma obra-prima

Sempre gostei mais do pai. E continuo gostando mais do pai. Mas esse lançamento de Luis Fernando Verissimo, "Os Espiões" (Alfaguara), é uma leitura que recomendo. Um livro sem pretensões de obra-prima, que diverte sem nenhum mergulho às profundezas do ser. Acho que faz falta esse tipo de literatura. Cansa esse compromisso que alguns escritores têm de superação sobre superação. Levemos a vida menos à sério, fazendo o favor.

A resenha, no UOL:
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2010/01/31/ult5668u135.jhtm




segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Lágrimas de Eros

(Andy Warhol, Beijo, 1932)
(Man Ray, Lágrimas, 1932)

Sozinha em Madri num domingo frio e ensolarado, não podia haver programa mais perfeito que a exposição “Lágrimas de Eros”, no museu Thyssen-Bornemisza, que eu não conhecia. Com esse título, eu iria mesmo que fosse em Barajas. “Les Larmes d’Éros” é o último livro de Georges Bataille, lançado em 1961, e que muito debati durante o mestrado com meus colegas de classe (saudade disso!). Nesse livro, o autor francês levanta a poeira do clássico problema da íntima relação entre o prazer sexual e o instinto de morte. O gozo é a micro experiência da morte, diz Bataille a seu modo. “Tanto na morte como na consumação erótica regressamos, da descontinuidade da vida individual, à continuidade originária do Ser”, numa livre tradução do panfleto explicativo da mostra.
A exposição apresentava um ótimo apanhado, em pinturas, fotografias, esculturas e vídeos, da arte dedicada à divindade grega do amor. Nas primeiras salas estavam as várias faces da mulher fatal: Vênus, Eva (a origem de todo o pecado do mundo, segundo a leitura bíblica), a esfinge, a sereia. Já comecei me apaixonado pelo retrato de Man Ray, feito em 1932 (até trouxe uma reprodução em imã de geladeira), intitulado “Lágrimas”: dois olhos femininos cuidadosamente maquiados, com cinco lágrimas de vidro ou cristal postas simetricamente no rosto - o que faz daquele choro algo muito falso. Man Ray fez o retrato depois de levar um chute daqueles de sua amante Lee Miller. Sua resposta é irônica. Dizem que ele questiona a própria fotografia com essa ironia.
Claro, o tema religioso não faltaria na exposição, afinal para Bataille a identidade entre Eros (amor) e Tânatos (morte) faz sentido no contexto do sagrado. “O erotismo é objeto de um tabu, de uma proibição que ilumina o proibido ‘com uma luz ao mesmo tempo sinistra e divina: o ilumina, com uma palavra, com uma luz religiosa’”. Por isso no erotismo, assim como no sagrado, a proibição não existe sem a transgressão.
E chego então à sala com algumas interpretações da tentação de Santo Antonio, o eremita que retirado no deserto é assaltado por visões diabólicas de... uma mulher nua. Ele resiste e apenas olha de longe - daí alguns considerarem Santo Antonio o primeiro voyeur da história. Ali vi quadros incríveis de Paul Cézanne (de 1877), Jan Wellens de Cock (1520), Picasso (1970) e Antonio Saura (1963 e 1964) – desse último, uma colagem feita com fotos de pin ups nuas tiradas de revistas da época. Adorei!
Sigo pela sala dedicada a São Sebastião. Eu não sabia, mas aquela imagem do santo amarrado a uma árvore, nu e com o corpo atravessado por flechas, com uma expressão entre a agonia e o êxtase, se converteu, após o século 15 (antes ele era retratado de um jeito totalmente diferente) num ícone gay por excelência. Lembro de ter ouvido uma frase, provavelmente de um poeta do século 19 que não lembro o nome, que resume tudo: “Quem mais profundamente me fere, mais profundamente me ama”. A imagem de São Sebastião reflete gozo, não sofrimento, ou as duas coisas – o gozo no sofrimento, o prazer e a morte de Bataille.
Também estava nessa sala Andrômeda, a equivalente feminina de São Sebastião, que é oferecida em sacrifício a um monstro marinho. Amarrada a uma rocha no mar, ela é salva por Perseu que se apaixona pela imagem da mulher nua, imóvel, entregue. Perseu só nota que é uma mulher pelo balanço dos cabelos ao vento.
Ainda tinha a sala do beijo, com Andy Warhol (1963) e uma introdução que merece ser reproduzida: “A culminação amorosa do casal é a escravidão mútua. Os amantes lutam para superar seus limites individuais para se fundir em um só ser, mas essa função não se produzirá sem violência, sem a paixão canibal por devorar ao outro ou por vampirizá-lo.” É ou não é a melhor descrição do beijo?
Sai do museu com uma frase de Paul Gauguin, talhada em madeira, de 1901: “Soyez amoureuses et vous seres hereuses” (tá certo, gente?), algo como “se apaixone e serás feliz!”. Nada mais!
P.s.: Esse post é mais um da série ‘leiam e babem’. Infelizmente, a exposição acabou. Tive a sorte de ver no último dia. Quem sabe algum museu de São Paulo não se interessa em trazer pra cá.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Caim na praia

Leitura e resenha de “Caim”, de José Saramago (Companhia das Letras), coincidiram com um momento importante da minha vida: quando entendi que dá pra ser mística sem ser religiosa. E que toda religião que eu conheço, algumas por ter frequentado lá num passado distante, são muitíssimo chatas. Então, veja bem, não haveria momento mais propício para uma nova interpretação bíblica do distinto ateu de nascença Saramago. Mais um livro dele que eu li rindo. Às vezes até rindo alto. E ainda por cima li defronte o mar de Cupe. Alguém ainda vai perguntar se o livro é bom?

A parte que destaco (e que não entrou na resenha do UOL) é a da sequencia de definições e descrições da mulher, logo no começo do livro, tendo Eva como objeto de análise. Estamos no Jardim do Éden, onde a perfeição se mostra monótona demais para pensantes. Ali, a primeira mulher da humanidade é rebelde, responde ao marido e se surpreende com sua liberdade. “Era como se dentro de si habitasse uma outra mulher, com nula dependência do senhor ou de um esposo por ele designado”.

Outra frase que eu adoro é quando ele tenta descrever a chatice que é o céu onde “também se sorria muito, mas sempre seraficamente e com uma ligeira expressão de contrariedade, como quem pede desculpa por estar contente.”

E há vários diálogos incríveis sobre a onipresença (e importância) de Deus. Caim está em pé de guerra com o todo poderoso e não economiza ironia em seus comentários. Exemplo: “A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.”

Pena que não é todo mundo que gosta. Soube que o UOL recebeu comentários ácidos sobre meu texto e o do Saramago. '-)

A resenha:
http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2010/01/03/ult5668u131.jhtm

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Clarice e Saramago

Dois livros me deram um prazer danado no final de 2009. Foram minhas resenhas de dezembro no UOL: "Clarice," (leia Clarice vírgula), de Benjamin Moser (Cosac Naify), e "Caim", de Saramago (Companhia das Letras). Dois livros incríveis que entraram na lista de preferidos do ano, sem pensar duas vezes.

De "Caim", prometo escrever em breve minhas impressões pessoais (grande livro!). Mas de "Clarice,", não me contive e relacionei alguns pontos da vida e personalidade da minha grande musa inspiradora com os quais, digamos assim, me identifico. Aliás, li esse livro (pesquisa incrível, texto muito bom!) procurando o que dela era meu, e o que meu era dela. Coisa de fã. Enfim, vamos aos pontos:

1. Ela disse: "se pudesse ter escolhido queria ter nascido cavalo"

2. "É que sou mística", disse Clarice a um entrevistador. "Não tenho religião, porque não gosto de liturgia"

3. "Se eu tivesse que dar um título a minha vida ele seria: à procura da própria coisa"

4. "Em Recife os mocambos foram a primeira verdade para mim. Muito antes de sentir 'arte', senti a beleza profunda da luta"

5. A última vez que Clarice esteve no Recife foi em 1975, ano em que nasci - tá bom, agora eu forcei! Coisa de fã, eu avisei. :D