terça-feira, 28 de outubro de 2008

Barcelona provinciana

Uma narrativa se faz de palavras e de não-palavras. As entrelinhas e o não dito podem ser o ponto forte de um texto. "Nada", de Carmen Laforet, é um bom exemplo disso. Um livro de 1942, agora com versão em português pela Alfaguara.
Andrea é uma jovem provinciana de 18 anos que troca os confins espanhóis pela "cidade grande", onde se depara com uma família maluca, uma sociedade tapada e os conflitos típicos dessa idade. A história se passa em Barcelona, numa época em que a cidade em nada parece esse centro moderno e reduto de malucos que é hoje. Eu gostei. Leitura fácil, rápida e muito envolvente.

Resenha no:
http://diversao.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2008/10/27/ult5668u59.jhtm

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Lições de amizade

(A partir da esquerda: Laís, Vico, Ju e Iara)


(A partir da esquerda: Adriana e Laís; Ju e Vico; Carol e Iara; eu e Julia)

Domingo, Julia completará dois meses de vida. E não é só por causa do tamanhão da menina que parece ter passado muito mais tempo. É que tanta coisa aconteceu nesses dois meses...

Quando me lembro das primeiras semanas: eu chorando enquanto amamentava (não conseguia não chorar enquanto amamentava!), com uma sensação que faltava chão sob meus pés, achando que minha vida jamais teria rotina de novo... De uma hora para outra (mais ou menos a partir da quarta semana, mas para mim foi basicamente após a chegada da babá), tudo se assenta. E assim como a calmaria do mar que sucede a tempestade, as coisas começam a entrar nos eixos. Eu e a Ju estamos cada dia mais em sintonia, nos entendemos muito bem e quase posso dizer que estou, mais uma vez, em equilíbrio.
E ontem, como um presente antecipado de aniversário, dei uma importante lição à minha filha. Iniciei a Julia nas delícias da amizade. Foi meio por acaso. A Adriana, que teve a Laís no dia 09/08, queria me visitar. Eu propus um encontro de bebês “agostianos” e convidei a Ju, com seu Vico, que nasceu dia 16/08. Ai a Denise me ligou dizendo que sua netinha (!) Iara, filha da fofíssima Carol, que nasceu dia 20/09, já estava pronta e disposta a conhecer Julia. Fechado. Foi a senha para uma tarde super gostosa, com comilança, papo de mãe, amamentações mil e um troca-troca de fralda nunca antes visto na casa 07 da Novais Júnior.

Tudo bem que as crianças mal se deram conta uma das outras. Mas sei que sentiram a energia boa que é ter amigos. A Ju até cedeu um ombro amigo para a Iara, enquanto o Vico, todo poderoso entre as mulheres, ensaiou uma mãozinha boba na perna da Laís. Não teve choro, nem manha, ou ciúmes. Os bebês pularam de colo (todos passaram pelo colinho da Fran, a bá da Julia, e se renderam ao soninho gostoso), posaram para fotos, fizeram gracinhas. E nós, mães e avó, babamos de orgulho e brindamos à amizade! Lição para minha filha levar para toda a vida.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Um biquinho e um olhar




Tão Julia...

A minha e a de Lennon/McCartney


Half of what I say is meaningless
But I say it just to reach you, Julia
Julia, Julia, oceanchild, calls me
So I sing a song of love, Julia
Julia, seashell eyes, windy smile, calls me
So I sing a song of love, Julia
Her hair of floating sky is shimmering, glimmering,
In the sun
Julia, Julia, morning moon, touch me
So I sing a song of love, Julia
When I cannot sing my heart
I can only speak my mind, Julia
Julia, sleeping sand, silent cloud, touch me
So I sing a song of love, Julia
Hum hum hum...calls me
So I sing a song of love for Julia, Julia, Julia


Para escutar a música:

sábado, 18 de outubro de 2008

Palavras de um jogador

Algumas coisas na vida só se explicam pela sorte. Eu tenho muita sorte de ter por perto pessoas especiais, muito especiais. Uma delas é meu pequeno gigante sobrinho Caio, nove anos e uma esperteza de séculos. Ontem, ele conheceu esse blog, adorou e resolveu criar o seu próprio. Eu dei aquela força, claro, e agora estou toda orgulhosa com o espaço que ele criou. Ali, Caio dá dicas de jogos e faz rimas. Uma delas, ele fez para mim! Fiquei toda orgulhosa. Ele quer ser jogador de futebol, mas quem sabe não estamos diante do nascimento de um escritor?

Vão lá:
http://voodejogos.blogspot.com/

Agora é pra valer

(Nossas pegadas, numa praia de Fernando de Noronha, deixadas lá em dezembro de 2002)

Seis meses sem o Marquinhos e eu continuo acreditando que o tempo tudo cura. Penso nos diálogos do cinema quando, perguntado sobre a mulher, o mocinho diz que ela morreu e, em resposta ao clássico “sinto muito”, ele acrescenta: “tudo bem, isso foi há muito tempo”. Já perceberam essa resposta padrão? Pois reparem.
Parece que a morte quando fica no passado perde o peso, dói menos.

A minha dor, no entanto, é a mesma que senti no dia 18 de abril de 2008, por volta das nove da manhã, quando aquela médica (ou seria uma estudante de medicina) disse com sua cara cínica (havia um sorriso indisfarçável no rosto dela) que eles haviam feito “tudo que podiam”. Será mesmo? De modo geral, não confio em médicos.

Dali em diante, vocês sabem mais ou menos o que se seguiu: primeiro um estado de letargia, como se aquilo não fosse comigo; depois uma falta física, saudade do corpo, do cheiro, do toque (isso, ainda sinto); mais tarde, uma raiva monstra de tudo: do que chamam destino, da pena dos outros, de médicos, de deus e até do próprio Marquinhos. Ai veio a fase do medo de não dar conta, de não conseguir, de fracassar (esse vez ou outra ainda me acomete).

Agora vejo que todas essas fases serviram para entrar num novo estágio da minha vida: o do “agora é pra valer”. Estou reassumindo aos poucos minha rotina, o que inclui a minha casa, os meus prazeres e, agora, a educação e os cuidados com a minha filha. Claro, ainda tenho a ajuda da família e dos amigos – de quem precisarei para sempre. Mas sinto claramente que entrei na fase 2 da minha vida. Não tenho idéia como será essa fase, nem quem serei eu inserida nela, mas gosto de pensar que há outra vida surgindo. Surge comigo, surge com a Julia e principalmente surge com a ausência do Marcos, tão presente cada dia em mim.

Queria que o tempo voltasse, mas já que isso é impossível, que pelo menos ele passe rápido e opere em mim o que é preciso.
Saudade.

Nesse dia, uma linda homenagem feita pelo Humberto há quase seis meses, mas ainda de agora.
Na página 14:
http://publimetro.band.com.br/pdf/20080428_MetroSaoPaulo.pdf

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Heranças nossas




Herança é bom. Além de simbolizar o desapego que a gente devia carregar em todos os momentos da vida, é o mais puro exemplo de energia transformada. Eu adorei passar pra frente o incrível guarda-roupa do Marquinhos, os brinquedinhos eletrônicos dele, a coleção de Pumas. Os livros, esses eu herdei todos!

Há algum tempo, eu vivi a alegria da herança estando do outro lado. A Ju estava prestes a nascer quando chegou de surpresa lá em casa a Mariana (Scalzo) com um presentão. Ela tinha acabado de fazer em família uma enorme arrumação na biblioteca que o pai dela deixou (Nilo Scalzo, que não conheci, mas sobre quem ouvi coisas lindas!). A maior parte foi doada para uma escola e serviu como pontapé para criação de uma biblioteca pública. Outras coisas, ela separou para os amigos. Não foi uma escolha planejada. Os livros saltavam na frente da Mariana e escolhiam seus donos, segunda ela mesma me contou.

Eu tive a sorte de ganhar duas raridades que, realmente, tinham que ser minhas: a primeira edição de “Nove, Novena”, de Osman Lins, com direito a dedicatória assinada pelo autor em 1969; e um exemplar da segunda edição de “Marinheiro de primeira viagem”, também de Osman Lins (de 1980), esse com um cartão/dedicatória assinado pela mulher do Osman, a também escritora Julieta de Godoy Ladeira.
Os livros ganharam um espaço de destaque na minha pequena, porém apaixonante biblioteca. Estão no rol dos livros com passado. É energia renovada, até que virem, mais uma vez, herança e continuem suas histórias em outra praça...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Índia sem vaporeto

Um dia ouvi de um amigo que a única condição para ele pôr os pés na Índia era que passassem antes um vaporeto por lá... :-) Impossível não lembrar dessa piadinha lendo "A Suíte Elefanta", de Paul Theroux (Alfaguara). Os personagens das três histórias desse livro em algum momento têm esse mesmo desejo. O agravante é que eles só se dão conta do avesso que é a vida na Índia quando já estão bem envolvidos com o país. Diria mais: quando estão afundados de Índia até o pescoço.

Resenha no:
http://diversao.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2008/10/13/ult5668u57.jhtm

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

As palavras vão chegando


Julia, sempre Julia.
Minha menina de olhos de ressaca me leva.
Olha assim, no fundo de mim, e diz tanto sem palavras.
Mia como uma gatinha, mas sabe grunhir grave quando precisa.
Exige tão pouco, me dá tanto.
É o amor reiventado, virado pelo avesso,
transformado para sempre.
Sou eu, é o Marquinhos, é ela própria,
uma nova pessoa, completa em si, cheia de nós.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Fábulas japonesas

Mais uma resenha publicada no UOL, desta vez do ótimo "Rashômon", de Akutagawa (Hedra). Ele, um autor japonês que ajudou a redesenhar a literatura do século 20 daquele país. O livro, uma reunião de alguns dos melhores textos desse escritor que teve vida curta (cometeu o suicídio aos 35 anos), mas deixou uma obra vasta e valiosa. São fábulas deliciosas e um texto biográfico que podemos chamar de testamento suicida. Demais! Eu amei ler e, mais ainda, escrever sobre.

Confiram em:
http://diversao.uol.com.br/ultnot/livros/resenhas/2008/09/28/ult5668u55.jhtm